Por volta de 2000 a. C., um grupo semi-nômade de pastores migrou da cidade de Ur, na Mesopotâmia, para Canaã, onde eles acreditavam que encontrariam a Terra Prometida. Esses homens eram os hebreus, os antepassados dos judeus. Guiados por Abraão, eles partiram da cidade mesopotâmica em busca de melhores pastagens e de terras mais férteis, se deslocando até a região da Palestina.

A história desse povo pode ser contada a partir das histórias da Bíblia, mais especificamente no Antigo Testamento (os judeus não aceitam o Novo Testamento, pois não consideram Jesus Cristo seu Messias). O estudo dessa fonte é complementado por vestígios arqueológicos e outros documentos, mas os historiadores não descartam o estudo do livro religioso como fonte preciosa de informações, tanto dos hebreus quanto dos outros povos que viveram na região do Crescente Fértil (região que abrange os rios Nilo, Jordão, Tigre e Eufrates, onde surgiram as primeiras cidades do Oriente Próximo), ainda que a maior parte de sua linguagem seja simbólica e trate de lendas e mitos.
Estudar as origens, as disputas e as trajetórias desses povos da região que hoje é conhecida como Oriente Médio, nos permite entender melhor a situação política, social e econômica dessa região que é marcada por conflitos, guerras e muita história.
Governo dos patriarcas
Segundo a tradição hebraica, Abraão recebeu de Deus a missão de guiar seu povo até Canaã, a Terra Prometida, no território da Palestina, onde já viviam os cananeus. A viagem foi finalizada apenas com seu neto, Jacó, cujos filhos deram origem a doze tribos hebraicas que eram comandadas pelos patriarcas.
Por volta de 1750 a.C., a região passou por um período de grande seca, o que obrigou os hebreus a migrarem em busca de terras férteis. Sua viagem acabou no Egito, às margens do rio Nilo, onde encontraram condições favoráveis para se estabelecerem. Sua chegada à região coincidiu com o período de dominação dos hicsos, que haviam derrubado o faraó, impondo-se no poder. Nesse período, os hebreus chegaram a ocupar cargos administrativos e viviam livremente.
Após a expulsão dos hicsos, derrotados por volta de 1580 a.C., os hebreus começaram a ser perseguidos e obrigados a pagar altos impostos, até serem escravizados. O salvador dos hebreus, como conta a Bíblia, nasceu e foi jogado no rio Nilo, onde a filha do faraó o encontrou e o criou junto da família faraônica. Esse foi Moisés, cujo nome significa “filho do Nilo” e que, já adulto, recebeu uma revelação divina de sua origem hebraica e a missão de libertar seu povo da escravização egípcia. Foi então que começou aquilo que é chamado de Êxodo, a saída em massa dos hebreus do Egito.

Quadro O recolhimento de Moisés (1904), do pintor Lawrence Alma-Tadema
A viagem teria durado cerca de 40 anos pelo deserto. Na passagem pelo Monte Sinai, Moisés recebeu as Tábuas da Lei, com os dez mandamentos divinos, episódio que é narrado na Bíblia. Pesquisas apontam que outros grupos semitas e não semitas acompanharam os hebreus na partida do Egito em direção à Canaã.
Governo dos juízes
Ao chegarem ao território da Palestina, os hebreus encontraram os cananeus e filisteus ocupando a região. Disputando seu domínio, os hebreus se organizaram sob a liderança dos juízes, os comandantes militares e chefes religiosos escolhidos pelas tribos. Josué foi o primeiro juiz e iniciou a tomada da região.
Os juízes que mais se destacaram foram Sansão, conhecido por sua força descomunal, que foi perdida quando Dalila cortou seu cabelo, e Samuel, que foi o último juiz e que escolheu Saul, como primeiro Rei dos hebreus, iniciando então o período da monarquia, em 1010 a.C.
Governo dos reis
Sucedendo Saul, Davi foi o responsável por vencer os filisteus e impor a dominação hebraica na região de Canaã. Estabeleceu então o Estado Hebraico, cuja capital se tornou Jerusalém. Seu sucessor, Salomão, aproveitou-se da centralização política e trouxe um período de riqueza e prosperidade aos hebreus. Ele foi o responsável pela construção do Templo de Jerusalém, onde a Arca da Aliança contendo as Tábuas das Leis seria depositada. Durante seu reinado, grandes obras foram construídas e para torná-las possíveis, o rei aumentou os impostos e instituiu o trabalho obrigatório, provocando grande insatisfação entre seu povo.
Com sua morte, o clima de insatisfação e as rivalidades das tribos levaram à divisão do povo hebreu em dois reinos.
Cisma do povo hebreu e Diáspora judaica
Por volta de 926 a.C., os filhos de Salomão fundaram dois reinos diferentes: o de Judá, ao sul, com capital em Jerusalém e com o apoio de duas tribos, e o reino de Israel, ao norte, com capital em Samaria e que contava com as outras dez tribos.
Divididos, os hebreus não resistiram aos seus vizinhos poderosos que disputavam suas terras. Por volta de 722 a.C., os assírios, sob a liderança de Sargão II, conquistaram o reino de Israel e, em 587 a.C., os babilônios comandados pelo rei Nabucodonosor invadiram o reino de Judá, destruíram o Templo de Jerusalém e levaram os hebreus como escravos para a Babilônia (capital do Segundo Império Babilônico, na Mesopotâmia). Esse episódio foi chamado de Cativeiro da Babilônia e, nos textos bíblicos, representa o castigo divino que recai sobre o povo por conta da corrupção e ganância que havia tomado conta líderes do povo.
Os hebreus permaneceram no Cativeiro da Babilônia até 538 a.C.., quando outro povo, os persas, dominou a região da Mesopotâmia. Mais uma vez, o povo hebreu voltou à sua Terra Prometida, reconstruiu o Templo de Jerusalém, mas já estavam enfraquecidos e não resistiram a novas invasões, primeiro dos macedônios e, mais tarde, dos romanos, que, em 70 d.C., sob o comando do general Tito, destruíram o Templo e provocaram uma diáspora judaica. Mais tarde, no ano de 135, o imperador romano Adriano sufocou revoltas hebraicas e, com isso, promoveu uma nova diáspora.
A partir de então, os hebreus se espalharam pelo mundo tornando-se uma nação sem pátria, que permanecia unida por conta de seus costumes e religião. A situação dos judeus só foi modificada, em 1948, quando a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu a criação do Estado de Israel, na região da Palestina, em virtude da perseguição e extermínio nazista que os judeus sofreram durante a Segunda Guerra Mundial.
A religião foi um importante fator de agregação dos judeus, que mesmo dispersos pelo mundo, continuaram a praticar seus rituais e a seguir sua tradição. O judaísmo foi a primeira religião monoteísta, isto é, que cultua um só deus. Para eles, o único deus é Jeová, “Aquele que é”, cuja imagem não pode ser representada em pinturas ou esculturas.
Como os hebreus viveram em outros territórios, como no Egito e na região da Mesopotâmia, é possível encontrar elementos comuns a esses povos entre os hebreus. Um exemplo disso pode ser percebido em algumas passagens bíblicas, como esta: “não terás misericórdia com ele, mas far-lhes-ás pagar vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Deuteronômio 19, 21), que revela vestígios da lei de Talião, princípio que regia a justiça entre os mesopotâmicos e que influenciou o Código de Hamurabi, que é conhecido como o primeiro código de leis escrito no mundo.
Seu monoteísmo messiânico (que acredita na vinda de um messias salvador) influenciou outras duas grandes religiões estabelecidas posteriormente: o cristianismo e o islamismo. A Bíblia, em seu Antigo Testamento, que, para os judeus, é chamado de Torá, é o principal legado do povo hebreu para a humanidade.
Ao longo de toda sua história, os judeus passaram por inúmeros deslocamentos e migrações, deixando sua tradição presente nos mais diferentes lugares do mundo. Atualmente, a região em que vivem, no Estado de Israel, continua sendo foco de conflitos, em razão, principalmente da disputa pela terra, onde, antes da criação de Israel, viviam os palestinos muçulmanos que se estabeleceram na região há muitos anos e que acabaram sendo expulsos de seu território e reivindicam a criação de seu país. A cidade de Jerusalém, que faz parte do domínio judaico, também é alvo de disputas, por ser considerada sagrada pelas três maiores religiões, o judaísmo, o islamismo e o cristianismo.

Imagem do Muro das Lamentações, único vestígio do Templo de Jerusalém